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  • Na contram o do ascenso do movimento

    2019-04-17

    Na contramão do ascenso do movimento de massas do final dos anos 1970, Sendero não apoiou a greve geral de 1977 e não endossou a participação no processo constituinte. Na contramão da democratização política em 1980, enquanto a esquerda peruana debatia tática e estratégia conformando Izquierda Unida, Sendero decretou o início do que projetava como uma guerra popular prolongada, tornada pública de maneira ilustrativa com a queima do material eleitoral no “Pueblo” serrano de Chuschi. Na sequência deste ato simbólico, Sendero começou a realizar ações armadas no campo que, a despeito da sua brutalidade, granjearam simpatia entre a população rural: assassinaram figuras odiadas, como fazendeiros e negociantes; distribuíram gado e terras; mobilizaram‐se contra cooperativas estatais, que eram repudiadas pelos camponeses; castigaram o roubo de gado além de infrações morais diversas, entre o alcoolismo e o adultério. Em regiões onde o Estado mal alcança e quando o faz, frequentemente tem um caráter repressor, a presença senderista poderia ser inicialmente associada a um guardião da ordem. Mas, como destaca Degregori, a intervenção senderista pouco se diferenciava do que caracterizaria um bom patrão, que remove o velho “misti” não para suprimi‐lo, mas para ocupar o seu lugar. Pois ao contrário de estimular a autonomia camponesa, sua prática replicava os aspectos “más autoritarios, cerrados, excluyentes y pre‐modernos de la cultura política peruana”. A cultura senderista pretendia ser mais justa, mas não mais democrática. Considerando que Sendero tinha como is that you social uma população rural descampenizada e desindianizada, é mais fácil compreender que afastava‐se da tradição mariateguista em termos políticos, porque nunca apostou no protagonismo camponês. Por isso, teve maior dificuldade em penetrar exatamente nas regiões em que havia organização camponesa. Também se distanciava no plano socioeconômico, porque objetivou extirpar do campo o que não fosse senderista ou camponês (o que se descrevia como “bater el campo”), sem qualquer intenção de estabelecer nexos com as formas políticas ou econômicas locais. Finalmente, se diferenciava no plano ideológico, porque as constatações anteriores dissociam questão agrária e questão indígena, obliterando uma especificidade nuclear da formação peruana salientada por este intérprete. Assentada nestas premissas, a Schwann cells política senderista rapidamente destoou do ensejo camponês. A dissonância se evidenciou na safra 1982‐1983, quando o movimento proibiu o acesso dos produtores aos mercados, uma vez que se pretendia estabelecer circuitos produtivos autárquicos. Registraram‐se neste contexto, as primeiras resistências camponesas à presença senderista. Porém neste mesmo período, o primeiro governo civil após doze anos de mando militar releva suas hesitações à intervenção das Forças Armadas, e o exército subiu a serra. Uma declaração do Ministro de Guerra Luis Cisneros Vizquerra sintetiza os motivos pelos quais também os militares resistiam em intervir, e ao mesmo tempo, anuncia o caráter desta atuação. Afirma que, para assumir o controle de Ayacucho, “tendrían que comenzar a matar senderistas y no senderistas, porque esa es la única forma como podrían asegurarse el éxito. Matan 60 personas y a lo mejor ahí hay 3 senderistas...”. A repressão indiscriminada desencadeada pelo exército atiçou uma escalada de violência que ensanguentou Ayacucho, e espraiou o conflito a outras regiões do país. Diversos analistas apontam que a conduta das forças armadas foi contraproducente, pois forçou a população a escolher entre o mal menor, e muitas vezes este pareceu ser Sendero. Composto majoritariamente de recrutas costenhos, poucos dos quais falavam quéchua, o exército surgia para muitos, como um invasor. Como decorrência desta política, no ano de 1984 registraram‐se mais de 4 000 assassinatos e desaparições forçadas.